Porque não queres abrigar-te desta chuva
Numa pequena casa sem janelas
Nem vais ao beija-mão por sobre a luva
À porta do hotel de cinco estrelas
Porque nunca exibiste a tua imagem
Na montra que anuncia as promoções
E não ficas sozinho na paragem
Quando por ti passam multidões
Porque sabes que as ruas por onde andas
São o lugar comum de quem lá mora
E as flores que enfeitam as varandas
Devem ser cuidadas hora a hora
Porque és um vigilante no seu posto
Que prevê mas não teme a tempestade
E dás outro sentido ao teu desgosto
Descobrindo o avesso da saudade
Com o vento a bater-te em cheio no rosto
Podes olhar de frente prá cidade
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